11 abril 2013

História de amor

O braço fundiu-se com a perna.
A perna sorriu. Não estava à espera daquela fusão. Se fosse do pé, ou joelho ou da coxa... ainda vá, agora do braço? Ele sempre lá no alto, tão solicitado e solícito, porquê o súbito interesse na perna? Ela tão mal tratada, com pêlos e varizes, e o braço bem tratado, musculado e cheiroso...
Sem se questionara perna deixou-se ir. Deixou-se amar loucamente e fundiu-se com o braço. No final, já sôfrega e cansada esqueceu-se que a outra perna estava mesmo ali ao lado e que tinha presenciado tudo. A tudo tinha assistido, mesmo sem querer. Mas não tinha mãos para tapar os olhos, então susteve a respiração muito muito muito tempo, as veias incharam, de azuis passaram a roxas, laranjas e pretas até que explodiu. 
A outra perna viu-se a ela mesma com um arco-íris de tinta acrílica derramado sobre si, com cheiro a podridão, o qual teve que suportar enquanto ali permaneceu.

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