19 novembro 2019

Naquela noite ele perguntou-lhe pelo deus dela. Ela não sabia como responder. Falou em destino, em coisas que lhe tinham acontecido, mas tudo muito vago, sem conteúdo nem estrutura. O Deus. Como poderia ela explicar a relação que tinha com ele, os ganhos, as perdas, as aceitações e as desilusões? Enquanto conversavam, pensava nesse Deus e da forma como se tinha apoiado nele para viver momentos difíceis. Na forma como o tinha dado às pessoas que precisavam dele...e na maneira como ela o discernia nessa equação tão paradoxal que era viver.
Lembrou-se da história de Paraty. Naquela cidade, onde tinha chegado sozinha depois de Ilha Grande e de grandes encontros. Chegou aonde ninguém a esperava. Chegou a um lugar que lhe parecia tanto com Portugal, que uma saudade incrível de algo que não sabia o que era, lhe assolou o coração... Percorreu as ruas da calçada, encontrou umas pessoas de um couchsurfing que lhe tinham proposto alojamento... e foi de boleia até uma casa no meio da mata atlântica, uma casa rudimentar, onde se ouvia a cachoeira de uma forma quase ensurdecedora... mas não é esta história que quero agora contar. Essa está no diário da viagem. Quero contar a história do dia em que deixei Paraty e estava imensamente triste. Daquelas tristezas que me apanham desprevenida, triste e melancólica. Sem saber porquê. Estava com a minha mochila, e andava pela cidade a fazer tempo até apanhar o autocarro para mudar mais uma vez de lugar e rumar sempre até norte.
Deambulava pela cidade sem rumo, a ver rostos e paisagens quando junto de mim aparece...

Enquanto escrevo estas linhas, decido que afinal não vou escrever. Não consigo porque escrever parece-me simplificar uma emoção, dissecá-la e transpô-la para o papel. Não quero. Prefiro contá-la, sentir os arrepios na espinha enquanto a conto, ter as lágrimas que me vêm aos olhos e aquele aperto na garganta de narrar algo simples mas, para mim, incompreensível e poético.
A poesia dos momentos é para ser vivida. Desculpa.