28 novembro 2012

As mulheres americanas

As mulheres americanas estão todas as quartas-feiras de manhã no café a tomar chá.
As mulheres americanas falam alto para que as outras pessoas ouçam que elas são diferentes.
As mulheres americanas são todas parecidas: cara de enjoadas, cabelos compridos e roupa de dona de casa desportivó-confortável.
Estas mulheres americanas distinguem-se das outras: das que vêm com as crianças. 
Estas fingem interessar-se pelo mundo, pelos problemas da sociedade e por vezes parece até que falam de trabalho.
As outras vêm com a filharada toda atrás e falam de bolos, de fraldas, de maridos impotentes, de seios doridos de amamentar, de barbecues, de toalhas de casa de banho e dos lençóis que a empregada portuguesa não mudou. São mais genuínas. 
Vê-se na cara delas a angústia da perda da identidade para um marido que não amam, para uns filhos que as atormentam e tudo isto num país que não suportam. Tudo por uma confortável conta bancária, uns implantes de silicone para mostrar aos maridos das outras e a felicidade de não pensar (muito).

Quando sós, estes espécimes tendem a extinguir-se. É como se perdessem o resto de luz e de vida que ainda tinham. Esvaem-se e esgotam-se. Parecem mulheres francesas perfeitamente normais, com a arrogância e a pitada de snobismo que lhes é característico, e a distância em relação aos outros.
É incrível como de um momento para o outro a mulher americana passa a mulher francesa: apenas precisamos de a retirar do meio da manada e isolá-la num canto. E aí, perder algum tempo a observá-la. Se nos detivermos uns meros 30 segundos conseguimos claramente ver a transformação a operar-se. 

O efeito de grupo é de facto uma coisa fantástica!


Xuanita

05 novembro 2012

Não só a História, mas tambem a vida é cíclica.


"Partir simboliza um desapegar temporário, necessário à sobrevivência. Caso contrário, inviabilizamos a viagem. Regressar significa resgatar o apego silenciado e tornarmo-nos unos novamente com a terra. É por isso que partir é difícil, e regressar também. Porque ambos os paradigmas foram postos à prova e superados, e devem ser postos à prova continuamente sempre que se parte ou regressa." Escrito a 8 de Abril de 2009.

Poderia ter sido escrito hoje. 

Textualmente, palavra a palavra, vírgula a vírgula, espaço a espaço. 

Repetido. 
Vezes sem conta.


Da relatividade do tempo - Parte I


Só quando passamos horas intermináveis à espera de algo, seja uma chegada, uma visita, uma partida, ... é que tomamos consciência completa da absurda relatividade do tempo.

É impressionante como já passaram 12 horas em que estou neste autocarro, sei que ainda faltam 9 horas... e no entanto, encaro-as com tranquilidade e um pouco de satisfação até.

Sim, o tempo é extremamente relativo. E por vezes tem o gosto de uma tarde de domingo: queremos que passe o mais lentamente possível para que possamos saborear cada preguiçoso minuto.

Em viagem o sabor é diferente. É sabor a paisagem, a música, a reflexão à janela do autocarro, a deambulação.

Dou por mim a desejar que o tempo páre.

Dou-me conta do absurdo e paro de escrever.


26Out2012

Xuanita