11 março 2014

Para escrever


Para escrever preciso sempre um ambiente ideal. De um dia ideal, da musica ideal.
Raramente o texto é construído, alinhado, arquitectado como deveria ser. O que faz de um escritor, um escritor? O que é que nos faz ter vontade de alinhar em linhas e versos textos e vozes que nos vêm à boca e aos olhos?

Aqui, no silêncio, em que me escuto e escuto os barulhos que me rodeiam, sei que não estou sozinha. Sei que esta casa, quase centenária esconde segredos no soalho e nas paredes. Durante a noite sei-me acompanhada e durante o dia há vozes e sopros e movimentos. A co-habitação é pacífica. Aceito-os e eles aceitam-me, eu creio. Nunca me senti mal-vinda. Acompanhada sim, mas nunca mal-vinda. Não sou intrusiva, aceito e questiono pouco. Quase nada  há a questionar. Confio na minha sensibilidade e isso chega-me.

Pesa-me a preguiça da pena. O caderno que utilizo repele-me, ele mesmo. Apelidei-o de "Caderno de quem fica". Escrevo-o em momentos de desespero. Nos de lucidez, faço coisas sérias e práticas e convenço-me de que sou produtiva.

Vivo um momento de limbo. De contemplação e questionamento. A vontade de partir é constante, embora por vezes acalmada em doces manhãs de domingo. No entanto, são acalmias fugazes. O espírito esse está sempre em turbilhão, questionamento, agitação. Como se dançasse, a vários tempos, a várias vozes, a vários ritmos.

Quero escrever um romance.

Círculos.


1 comentário:

Luis Nogueira Damas disse...

Muito bonito, como tu o és, tu em palavras e em tudo o resto de quem te sabe bem. Beijo